31 de julho de 2011

Halloween

Me chamo Orloff e era minha noite de folga. Tinha saído para beber. Passavam das três e meus olhos já não eram mais os mesmos. Enxergavam apenas o suficiente para perceber os sorrisos provocantes que a ruiva do vestido preto dirigia a mim do outro lado do balcão.

O namorado ainda não se dera conta. Safada... Chamei o garçom e pedi que lhe servisse outra dose do que quer que estivesse bebendo. O homem relutou, antevendo a confusão, mas minha nota de cinqüenta o fez reconsiderar.

Uísque com energético. Além de safada, devia estar bem-disposta. O namorado se enfureceu com meu atrevimento. Virou-se e me encarou, a pele descorada e os olhos vermelhos. Maldito vampiro! Não esperei para ver os caninos; fui cambaleando até lá e acertei-lhe uma garrafada no nariz.

Ele desabou no chão, urrando e se contorcendo sob os gritos aterrorizados da ruiva, seu rosto se cobrindo de vermelho com o sangue. Já o olho esquerdo, de repente era tão castanho quanto o meu. Com o golpe, devo ter arrancado a lente do palhaço fantasiado.

23 de março de 2011

Cafeína

(do diário de Laura Angelim)

Um casal de amigos foi à África, ver a Copa. Voltaram com presentes e me trouxeram uma máscara zulu horrível. Não teria pendurado aquela coisa na parede da sala por vontade própria, mas os pombinhos tiveram um surto de freqüentar meu apartamento e não me deram escolha. Hoje, porém, me dei conta de que havia algo errado com aquela máscara.

Tudo começou com a resistência do chuveiro. Não tinha nem uma semana e queimou com um estouro durante meu banho — acredite, enxaguar o cabelo na água fria logo pela manhã em meados de julho afeta sua saúde tanto quanto seu humor.

Tomei meu café da manhã entre espirros. Por causa de um deles, aliás, derramei chocolate quente no tapete novo.

O dia dava indícios de que algo não estava bem. No trabalho, por exemplo, perdi um relatório de duas páginas com uma queda de energia. Houve também um incidente no vestiário da academia, mas foi embaraçoso e não quero falar a respeito.

Voltei para casa certa de que a máscara era enfeitiçada. Entrei com cuidado para, sei lá, não escorregar e bater a cabeça, ou ter tempo de me esquivar no caso de algo cair sobre mim. Queria arrancar a coisa da parede! Inacreditavelmente, no entanto, ela simplesmente não saiu do lugar quando a puxei com toda minha força. Pensei então em quebrá-la, mas uma porção de golpes com o martelo de carne também não surtiu nenhum efeito.

Passei algum tempo sentada, olhando para o sorriso malicioso talhado na madeira e atirando as pedrinhas ornamentais do vaso na minha estante em sua direção. Acertei algumas na boca e uma no olho esquerdo. Não me surpreenderia se ela começasse a cuspi-las de volta em mim.

Fui fazer um café. Não podia deixar aquele objeto lá. Era contra o regulamento. Se não conseguisse remover a máscara sozinha, teria que ligar para a Agência e pedir que mandassem um especialista. Nesse caso, era uma vez noite de sono! Os caras colocariam minha parede no chão se precisassem.

Encarei a máscara e tomei um gole do café. Péssimo! E o riso de madeira parecia debochar de mim. Perdi as estribeiras e joguei o conteúdo da xícara através da boca da máscara.

As luzes do apartamento piscaram.

Quando a energia se normalizou, a máscara africana tombou sozinha no chão e se espatifou.

Não sabia se ficava mais aliviada por poder dormir ou ofendida por causa do café.