15 de julho de 2010

Detalhe

Me chamo Orloff e admito que a princípio achei aquilo tudo ridículo. Ligaram de uma escola pública depois que alguns pirralhos em frenesi juraram ter visto a loira do banheiro. Já era a segunda vez naquele mês. Por via das dúvidas, me mandaram checar.

Em pé no banheiro quebrado, com os sapatos encharcados e o nariz protestando contra o fedor do lugar, pensava a respeito das loiras do banheiro que já havia encontrado. Todas ficavam ótimas molhadas, mas nunca com água da privada. Tateei o bolso do casaco atrás do crucifixo e achei melhor começar o ritual de invocação para me ver livre daquela imundície logo.

Três batidas na porta, uma Ave Maria, três palavrões — minha parte favorita — e um chamado carinhoso:

— Sai logo daí, biscate!

Nada. Apenas o som de gotas de alguma torneira precisando de reparo. Outro alarme falso. Alguém na Agência precisa tomar providências a respeito desses trotes, pensava irritado, enquanto aproveitava para aliviar a bexiga. Ergui o zíper e dei a descarga.

A descarga!

A porra do encantamento estava incompleto. Um pouco de água desceu através do cano, mas logo um refluxo aumentou a inundação no chão e me afastei bem a tempo de evitar algo saindo da privada. A loira. Cravei o crucifixo em sua pele cinza e escamosa, ao que a monstrenga escancarou a boca e os olhos de modo a me lembrar repulsivamente um peixe. Enquanto ela ressecava e seu grito desaparecia, tentava não me esquecer de comprar cigarros. Precisava de uma tragada.